quinta-feira, 22 de maio de 2008

Cinema - 2 (Martin Scorcese)


Martin Scorcese? Quem é ele? Simplesmente um dos grandes diretores do cinema americano e possível do cinema mundial. Um baixinho na altura, mas enorme no talento.

Engraçado como não podemos confundir o pessoal com o profissional, viciado em cocaína durante os anos 70 só rodava os seus filmes totalmente “chapado”. Sendo que toda a droga consumida nos sets vinha diretamente dos executivos da indústria hollywoodiana.

Assim, Scorcese conheceu na prática o mundo das drogas, que fariam parte do seu estilo cinematográfico. Provavelmente ninguém filma o submundo como ele. Seus filmes retratam toda a podridão da sociedade que não queremos enxergar. Em sua filmografia, temos o mundo dos jogos de Los Angeles, da prostituição, da corrupção na polícia.

Nos anos 70/80 ajudou praticamente a lançar o ator Robert DeNiro. Numa parceira Scorcese-Niro que brilharia em diversos filmes ao longo de vários anos. Foi numa dessas parceria que DeNiro levou seu Oscar de melhor ator no filme “Touro Indomável” (1980), que é até hoje considerado como um dos melhores filmes do cinema mundial, figurinha recorrente em qualquer lista das melhores produções de todos os tempos.

Se o submundo é o cenário ideal pra produções scorcesianas, os personagens centrais só podem ser personagens atormentados, que não aceitam o mundo. Personagens dúbios, que se revelam bons e maus ao mesmo tempo. Se há três décadas passadas, um jovem DeNiro era o ator ideal pra Scorcese, os anos 2000 marcaram o surgimento de um novo astro em suas produções: Leonardo DiCaprio. A parceria Scorcese-DiCaprio já rendeu ótimos frutos (Gangues de N.Y, O Aviador, Os Infiltrados). Eles já estão rodando um novo filme, cuja previsão é ser lançado na temporada de 2009. Em O Aviador, por exemplo, DiCaprio mostra o porquê se tornou queridinho do diretor, ao interpretar o magnata Howard Hughes, um personagem totalmente complexo, que reúne em si um homem múltiplo que vai de diretor cinematográfico a empresário no ramo da aviação, atormentado por vários problemas como o transtorno obsessivo compulsivo.

Martin Scorcese se tornou um diretor inigualável. Vieram as indicações ao Oscar, no entanto sem vitórias, devido à Academia retrógrada que não via com bons olhos um diretor que embora talentoso tinha uma vida regada à drogas. No entanto, num dos melhores momentos do Oscar dos últimos tempos, a Academia foi obrigada a se render ao talento de Martin. Assim, em 2007, Scorcese não só subiu ao palco para receber o seu merecido reconhecimento, como o fez em grande estilo: aplaudido de pé por todos, ainda recebeu o seu prêmio das mãos de uma trindade Spielberg-Coppola-Lucas*. Naquele momento, os quatros grandes diretores de uma geração e amigos, reunidos todos de uma só vez no mesmo palco.

*: Steven Spielberg (sem comentários), Francis Coppola (diretor de O poderoso chefão), George Lucas (diretor de Guerra das estrelas e roteirista de Indiana Jones).

sábado, 17 de maio de 2008

Literatura 1 (The White Hotel - D. M. Thomas)


Comecei finalmente as minhas análises literárias. E olha por qual obra dou início a esta sessão – The White Hotel. Nunca procurei o título dessa obra em português, mas creio se houve uma tradução ao pé da letra, então ficou “O Hotel Branco”.

Uma das primeiras questões que chamam à atenção no livro é o seu tom sexual. Sexual ou pornográfico? Essa linha entre erótico e pornográfico sempre foi muito tênue e ainda até hoje suscita dúvidas e polêmica. Pra mim, o livro pode ser tarjado com pornográfico mesmo. E ele é, só que não fica só restrito nisso (é o que comentarei abaixo). Lembro claramente quando tive que ler a obra em questão pra uma disciplina em literatura de língua inglesa, éramos cerca de 15 alunos, somente 3 alunos conseguiram terminar a leitura – eu e mais dois colegas homens. As meninas se escandilizaram e se negaram a terminá-lo.

Mas o grande trunfo do livro não reside no seu apelo erótico, mas sim no seu tom literário metaficcional historiográfico. Mas o que vem a ser essa tal metaficção? A metaficção é simplesmente aquela ficção que volta a si mesma, aquilo que fala de si próprio, que foge da sua realidade. Por exemplo, um poema sobre o que é um poema ou então um filme sobre o fazer cinema – tudo isto são exemplo metaficcionais. Machado de Assis ao falar diretamente com o seu leitor, ao falar para que pule determinados trechos e sigam adiante, está fazendo uso de uma narrativa metaficcional, pois consegue naquele momento quebrar as barreiras do seu mundo narrativo, mostrar que tudo aquilo é apenas um faz de conta. No cinema, novamente, encontramos a metaficção no filme “Todo Mundo em Pânico”, que ao parodiar os filmes de terror, não se leva a sério, mostrando os elementos que entram em cena durante a composição de um típico filme de terror. E o livro “The White Hotel” faz uso brilhante dessa técnica ao compor a escrita de Freud, mostrando o seu ato de criação na escrita.

A obra é historiográfica porque “brinca” com a figura de um personagem histórico: Freud – o pai da Psicanálise.

Mas afinal do que fala a obra? A estória pode basicamente ser divida em três momentos básicos. O primeiro é a personagem central, Lisa, contando as suas fantasias eróticas para Sigmund Freud. Num segundo momento da trama, temos finalmente a análise freudiana desses sonhos de Lisa, dando explicações psicanalíticas a tudo aquilo que foi relatado no “Hotel Branco” (por isso o nome do livro) – que representa o subconsciente da personagem central. E finalmente, na parte final, temos as conclusões dadas pela própria Lisa sobre o que ela compreendeu da análise de Freud. Na verdade a estória se mostra muito mais envolvente do que aqui descrita, mas não vou comentar pois senão perde a graça.

O livro se tornou um best-seller na Inglaterra nos anos 80, e chocou meio mundo pelo seu apelo sexual advindo de uma obra de autoria feminina. Afinal o homem pode escrever elementos eróticos, mas nunca a mulher. Assim, o livro ganhou status de obra clássica e já vem sendo estudado em boa parte dos cursos de literatura em língua inglesa contemporânea. Mas ele é um bom pedido, para aqueles que não se deixam levar pelos momentos iniciais (e a parte mais longa do livro – sem duplo sentido, por favor) e resolvem se aventurar em conhecer um pouco de uma mente conturbada, com direito a análise freudiana.

PS: está previsto para o ano de 2009 o filme “The White Hotel”, cujas filmagens já se encontram rolando. Será q eles vão adaptar tudo?, desde o ménage à trois de um padre que mama nos peitos da personagem central enquanto a outra parceira ... Chega, ficou curioso(a), vá ler o livro ou esperar no cinema.